Para além do ex-Presidente vão também ser ser interrogados na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, Alexandre Ramagem (ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno, (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro).
Apenas o último, por se econtrar preso preventivamente no Rio de Janeiro, será ouvido por videoconferência. Todos os restantes serão interrogados presencialmente na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
Fontes judiciais afirmaram que a intenção é que o julgamento seja concluído ainda este ano e que as sentenças sejam proferidas entre outubro e novembro.
Todos eles foram acusados pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de património.
A data da inquirição foi marcada pelo juiz Alexandre de Moraes, na condição de relator do processo, considerado inimigo número um dos bolsonaristas, depois de a última das testemunhas convocadas pela acusação e pelos advogados de defesa ter prestado depoimento na semana que agora findou.
Desde 19 de maio, depuseram 52 testemunhas e os depoimentos que mais podem comprometer Bolsonaro foram dados por dois ex-chefes militares, que confirmaram terem sido convocados pelo então Presidente, em dezembro de 2022, para discutir alternativas para impedir a posse de Lula da Silva.
Um deles foi o ex-comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, que disse aos juízes que Bolsonaro consultou os chefes das Forças Armadas sobre a possível implementação de um estado de sítio e "intervenção" na Justiça Eleitoral.
Freire Gomes deixou clara a sua oposição e avisou Bolsonaro que deveria "avaliar todas as consequências", pois se enveredasse por esse caminho seria "enquadrado juridicamente".
O encontro foi confirmado pelo ex-chefe da Aeronáutica Carlos Batista Júnior, que endossou as palavras de Freire Gomes e afirmou que as propostas de Bolsonaro são "um atentado ao regime democrático".
Ambos também concordaram num outro ponto e declararam que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, outro dos acusados neste processo, foi o único chefe militar que não se opôs claramente a estes planos de golpe.
O plano golpista terá começado após a vitória do atual Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de outubro de 2022.
Bolsonaro tentava a reeleição e não aceitou a derrota nas urnas. Segundo a acusação, foi então elaborado um plano de golpe de Estado para impedir a posse de Lula da Silva, que culminou com a invasão das sedes dos três poderes em 08 de janeiro de 2023.
Nas presidenciais de 2022, Lula da Silva venceu Bolsonaro, que se recusou a reconhecer a derrota, descredibilizou o sistema e o processo eleitoral (que levou à proibição de se recandidatar para cargos públicos durante oito anos) e icentivou os seus seguidores a montarem acampamentos em frente a bases militares para protestar contra o resultado das presidenciais e para exigirem uma intervenção militar.
No dia 08 de janeiro de 2023, enquanto o novo Presidente brasileiro, Lula da Silva, se encontrava fora de Brasília a visitar a cidade de Araraquara, no estado de São Paulo, que tinha sido atingida por chuvas severas, um grupo de radicais, apoiantes de Jair Bolsonaro, influenciados por meses de desinformação sobre urnas eletrónicas e medo do comunismo, invadiram e atacaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
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