Operação israelita contra Irão usou espiões, contrabando de armas e IA

Israel surpreendeu o Irão no dia 13 de junho com uma operação militar e dos serviços secretos planeada há anos, com recurso a espiões, armas contrabandeadas e inteligência artificial, atingindo alvos de alto nível com precisão.

Ataque do Irão a Israel, Mísseis,

© Reuters

Lusa
17/06/2025 17:40 ‧ há 5 horas por Lusa

Mundo

Israel/Irão

Segundo uma investigação da agência Associated Press (AP) hoje divulgada, Israel lançou uma vaga de ataques noturnos no final da semana passada para incapacitar rapidamente muitas das defesas aéreas e sistemas de mísseis do irão, graças aos dados recolhidos pelos seus serviços de informações e drones previamente instalados em território inimigo.

 

A AP baseou-se em conversas com dez oficiais israelitas, atuais e retirados, dos serviços de informação e do Exército, alguns dos quais sob condição de anonimato.

Com maior liberdade para sobrevoar o Irão, Israel bombardeou importantes instalações nucleares e matou oficiais generais e cientistas de alto nível.

Quando o Irão conseguiu responder, horas depois, a sua capacidade de retaliação já estava enfraquecida.

A agência noticiosa não conseguiu verificar de forma independente algumas das informações prestadas pelas suas fontes, mas Sima Shine, ex-chefe de investigação da agência de espionagem israelita Mossad, confirmou os contornos básicos da operação, a partir do seu conhecimento privilegiado da forma como foi planeada e executada.

"Este ataque é o culminar de anos de trabalho da Mossad para atingir o programa nuclear iraniano", comentou Sima Shine, ex-diretora de investigação do serviço de informações externas de Israel e atual analista do Instituto de Estudos de Segurança Nacional.

Uma sexta ronda de negociações estava planeada para o passado domingo em Omã, mas o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ativou a "Operação Leão em Ascensão" na sexta-feira, depois de o seu país ter avisado o Presidente norte-americano, Donald Trump.

Netanyahu justificou um ataque mais agressivo contra o Irão com o alegado progresso do seu programa de enriquecimento de urânio, apesar de Teerão insistir que os seus fins são pacíficos, e dos esforços diplomáticos de Washington e ainda dos alertas dos órgãos de supervisão da ONU, além dos apelos repetidos do líder supremo iraniano, Ali Khameini, para a destruição de Israel.

A Mossad e os militares israelitas trabalharam juntos durante pelo menos três anos para estabelecer as bases operacionais, de acordo com um antigo oficial dos serviços de informação que afirmou, sob anonimato, ter conhecimento da ofensiva.

O ataque baseou-se no conhecimento adquirido por Israel durante uma vaga de bombardeamentos aéreos em outubro passado, que "destacou a fragilidade das defesas aéreas iranianas", referiu Naysan Rafati, analista do International Crisis Group.

Para reduzir ainda mais as defesas aéreas e os sistemas de mísseis iranianos, os agentes da Mossad contrabandearam armas de precisão para o Irão e posicionaram-nas perto dos alvos, de acordo com dois oficiais de segurança no ativo que falaram sob de anonimato.

As armas incluíam pequenos drones armados que os agentes secretos introduziram no Irão em veículos, segundo um antigo oficial dos serviços de informação, e colocaram perto de bases de mísseis terra-ar iranianos, de acordo com Sima Shine.

Para analisar informações recolhidas de várias fontes, Israel utilizou a mais recente tecnologia de inteligência artificia para vasculhar os dados obtidos, explicou um oficial dos serviços de informação envolvido na seleção de indivíduos e locais a visar, falando sob anonimato.

Uma investigação da Associated Press no início deste ano revelou que o Exército israelita utiliza modelos de inteligência artificial produzidos nos Estados Unidos para vasculhar informações e intercetar comunicações, de forma a aprender os movimentos dos seus inimigos.

Esta tecnologia foi utilizada nas guerras com o grupo islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza e com o movimento xiita Hezbollah no Líbano.

O oficial dos serviços de informação envolvido na identificação dos alvos esclareceu que as opções foram inicialmente divididas em vários grupos, incluindo os militares, os civis, as lideranças e as infraestruturas, e escolhidos se fossem considerados uma ameaça para Israel, destacando-se os associados à Guarda Revolucionária do Irão, uma força paramilitar que controla os mísseis balísticos.

O oficial foi encarregado de elaborar uma lista de generais iranianos, incluindo detalhes sobre os locais onde trabalhavam e passavam os tempos livres.

Entre os oficiais militares de alta patente mortos desde o início dos ataques estaé Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária do Irão, e Mohammed Bagheri, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irão.

Além da inteligência artificial, a Mossad utilizou espiões para identificar os principais cientistas nucleares e membros da Guarda Revolucionária do Irão, de acordo com uma autoridade de segurança.

Pelo menos oito membros da força paramilitar, incluindo o chefe do programa de mísseis, foram mortos num único ataque israelita a um 'bunker' subterrâneo.

Outra faceta do ataque foi a seleção de veículos iranianos utilizados para transportar e lançar mísseis.

Sima Shine observou que a estratégia foi semelhante a uma operação da Ucrânia do início deste mês na Rússia, quando quase um terço da frota de bombardeiros estratégicos de Moscovo foi destruído ou danificado com drones de fabrico barato introduzidos clandestinamente em território russo, segundo as autoridades ucranianas.

Em entrevista à televisão estatal iraniana, o comandante da polícia iraniana, general Ahmadreza Radan, disse que "foram descobertos vários veículos que transportam minidrones e alguns drones táticos" e acrescentou que "vários traidores estão a tentar atingir a defesa aérea do país pilotando minidrones".

Acredita-se que a Mossad tenha realizado numerosas operações secretas contra o programa nuclear iraniano ao longo dos anos, incluindo ataques cibernéticos e o assassínio de cientistas nucleares, mas raramente as admite.

Na década de 2000, as centrifugadoras iranianas utilizadas para enriquecer urânio foram destruídas pelo vírus informático Stuxnet, que se acredita ser uma criação israelita e norte-americana.

Em julho de 2024, Israel matou o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, com uma bomba num quarto de uma casa de hóspedes do Governo em Teerão.

O devastador ataque de Israel, na semana passada, ao coração da estrutura nuclear e militar do Irão não surgiu do nada, comentou o brigadeiro-general israelita reformado Amir Avivi, que lidera o 'think tank' Fórum de Defesa e Segurança de Israel, acrescentando que foi o resultado de "anos de trabalho exaustivo".

Leia Também: Alemanha elogia "a coragem" de Israel por fazer "trabalho sujo" com Irão

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