"Se por um lado nós temos realmente uma percentagem bastante significativa de praias com qualidade excelente, esta análise é sempre feita com base na última época balnear, 2024", a "tendência que se está a verificar nos últimos anos é de uma redução desta percentagem de praias excelentes, nós passamos de 88,5% em 2021 para 82,6% em 2024, e estamos abaixo da média europeia que é de 85%", afirmou Francisco Ferreira.
O presidente da Zero - Associação Sistema Terrestre Sustentável falava à Lusa após a divulgação de um relatório da Agência Europeia do Ambiente, segundo o qual 82,6% das águas para banhos são de qualidade "excelente", 10,8% são foram classificadas como "boa" e 1,3% apresentam qualidade "fraca".
Apesar do aumento do número de praias classificadas pela associação como de "Zero Poluição" (de 59 para 81), e de mais praias com Bandeira Azul (de 398 para 404), Francisco Ferreira notou que, nas praias classificadas como más, existem "indicadores que mostram, sem dúvida alguma, um problema crescente", ao passar-se de três praias (0,4%) em 2023 com má qualidade para nove (1,4%) em 2024.
"Destas nove, há uma que nem sequer nesta época balnear de 2025 abriu, que é o caso da praia do Ilhéu de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, nos Açores, mas as outras oito estão abertas e, portanto, daí também o nosso alerta para que os utilizadores tenham cuidado, olhando para a informação que deverá estar disponível, porque são praias com o risco acrescido", advogou.
Em comunicado, a Zero salientou que, no relatório sobre União Europeia e Albânia e Suíça, Portugal registou 82,6% de águas balneares de excelente qualidade, comparando com a média dos 29 países de 85%, mas "o pior é a tendência verificada" nos últimos quatro anos, de 88,5% em 2021, 84,8% em 2022, 86,2% em 2023, e 82,6% em 2024.
"Esta tendência contrária e particularmente marcada no que respeita à redução das praias com excelente qualidade, merece uma avaliação por parte da Agência Portuguesa do Ambiente e das Direções Regionais do Ambiente no caso dos Açores e Madeira, pelas responsabilidades que têm na gestão dos recursos hídricos", refere-se na nota.
Das nove águas balneares com qualidade "má", seis são no continente, duas na Madeira e uma nos Açores, nomeadamente Benfeita (Arganil), Sandomil (Seia), Matosinhos, Almaceda (Castelo Branco), Fragas de São Simão (Figueiró dos Vinhos), Relva da Reboleira (Manteigas), Poças do Gomes/Doca do Cavacas (Funchal), Maiata (Machico), e Ilhéu de Vila Franca do Campo.
"É fundamental nós identificarmos as causas desta má qualidade e as entidades agirem em conformidade, ver se são problemas de falhas no tratamento de águas residuais, se são problemas com indústrias localizadas próximo, podem ser várias as causas, mas o que é facto é que a tendência, infelizmente, olhando para os últimos anos, não é animadora", considerou Francisco Ferreira.
O dirigente da organização não-governamental explicou que as praias interiores são "mais vulneráveis", por não terem "a capacidade de diluição do oceano", e nas nove praias más, cinco são interiores.
"Isso está também relacionado com o facto de 2024 ter sido um ano de seca, portanto, a diluição de alguma contaminação, de alguma poluição foi menor, mas é fundamental nós termos em atenção que as praias interiores são cruciais para tirar também pressão sobre a grande ocupação do litoral", frisou.
Nesse sentido, a Zero recomendou na nota a quem frequente estas zonas balneares "uma particular atenção à informação e avisos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), dado que o seu historial mostra uma forte possibilidade de problemas de contaminação".
A associação concluiu que a APA disponibiliza este ano um 'site' dedicado denominado InfoÁgua, que pode ser consultado através do endereço https://infoagua.apambiente.pt/pt/praias, para obter informações acerca das 673 águas balneares identificadas, das quais 605 vigiadas durante esta época balnear.
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