"Seguramente, faremos o convite para que ele nos visite e, sem dúvida, Chiclayo está no seu coração. Hoje agradecemos, mas, sobretudo, oramos pelo seu pontificado", anunciou o bispo Edinson Farfán, substituto de Robert Prevost, que, a partir de 2014, esteve à frente da diocese durante oito anos.
Em 2015, Robert Francis Prevost Martínez naturalizou-se peruano, com documento de Chiclayo, optando ainda por rejeitar o seguro médico privado ao qual tinha direito para adotar o seguro integral de saúde, usado pelas populações de baixos recursos e situação de vulnerabilidade social.
Por essas e outras demonstrações de humildade, cerca de cinco mil fiéis passaram a noite deste sábado em frente à catedral Santa Maria de Chiclayo a gritar: "Papa, amigo, Chiclayo está contigo" e "O Papa é chiclayano".
Diversos grupos paroquiais, muitos dos quais a conduzir bandas musicais, destacavam-se entre os fiéis de todas as idades com faixas, santinhos e fotografias do Papa.
"Sim, ele é chiclayano, mas não porque se tenha tornado Papa. Já o considerávamos daqui. Por isso, com mais razão ainda, agora queremos que ele nos visite. Queremos que ele venha visitar esta que é a sua terra. Eu acredito firmemente nisso e tenho fé em Deus de que nos vai conceder essa graça de que o nosso santo padre venha", disse à Lusa o reformado Luis Alberto Zata González, de 70 anos.
Por estas horas, qualquer coincidência se torna um sinal divino.
"Eu nasci em 1955, no mesmo ano do Papa. Só que ele faz aniversário em 14 de setembro, enquanto eu já fiz em 26 de abril. Creio que é uma graça de Deus", confiou Luis.
Roberto Prevost nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, mas chegou ao Peru em 1985 e, fora um período de três anos durante os quais saiu do país, passou todos os demais no país adotivo.
"De Chicago a Chiclayo", gritavam os fiéis, vendo outro sinal dos céus.
A psicóloga Peggy Renjifo, de 35 anos, disse que já está à espera da visita de novo Papa.
"Seria maravilhoso. Francisco não foi à Argentina, mas nós esperamos o nosso Leão XIV com muita vontade. Ele virá", garantiu.
Antes de Leão XIV, o Papa Francisco nunca regressou à Argentina natal para uma visita. Mas a esse sinal, os fiéis por aqui preferem não olhar. Perante a pergunta da Lusa sobre em que se baseia essa confiança, Peggy destacou a fé.
"A fé move montanhas e, nesse caso, que mova o avião papal para que ele venha ao nosso Peru", afirmou, com as mãos entrelaçadas em forma de oração.
Essa adoção coletiva do Papa por parte dos peruanos tem mais força aqui em Chiclayo, não apenas porque Leão XIV deixou marcas, obras e fotos pessoais nos telemóveis de todos. Chiclayo é chamada "a capital da amizade", devido à recetividade contagiante dos habitantes.
"Como nosso amigo, nós o adotamos antes de ele se tornar Papa e agora é parte da nossa família", resumiu Peggy.
As comparações entre os dois Papas, Francisco e Leão XIV, vieram pelas palavras do próprio bispo Edinson Farfán, que na homília, proferida nas escadas da catedral, sobre as quais foi construído um palco, enquanto a multidão lotava a praça.
Na fachada da catedral, as duas imagens que até sexta-feira homenageavam Francisco, no sábado foram substituídas por boas-vindas a Leão XIV.
"Sua Santidade, Leão XIV, um homem que sempre caminhou com o povo. Um pastor com cheiro de ovelha. Recordo as palavras do Papa Francisco, a quem Sua Santidade Leão XIV escutava com frequência: os pastores caminham com o povo", disse Farfán, que envergava paramentos litúrgicos dados pelo Papa.
"Leão XIV é um pontífice preparado e equilibrado, com capacidade de governo, mas, sobretudo, com um grande coração, aberto para acolher todos. Ele comunica com humildade e com a alegria da esperança. Como dizia o Papa Francisco, não deixemos que nos roubem a esperança", pediu o bispo, sublinhando que o nome do novo Papa é em homenagem a Leão XIII, "precursor da doutrina social da Igreja".
"Hoje queremos dar as graças ao Senhor ressuscitado por nos ter presenteado no dia 08 de maio com um novo sucessor de Pedro, o Papa Leão XIV, o nosso amado bispo da ordem de Santo Agostinho para a Igreja no Peru, para toda a América Latina e as Caraíbas", disse monsenhor Farfán, incentivando aplausos e gritos de "viva" que ecoaram pela praça.
Milena Aguinaga, de 34 anos, escolheu ver esse sinal divino para se reaproximar da Igreja da qual se afastou devido aos afazeres quotidianos.
"Graças à notícia da escolha do padre Robert para ser Papa, senti esse sinal para me aproximar novamente de Deus. Eu já sentia que queria estar mais perto de Deus porque sentia que me faltava alguma coisa. Quando escutei no seu discurso que ele mencionou Chiclayo, que se emocionou ao ponto de conter as lágrimas, chorei e senti que esse era um sinal para me aproximar", descreveu Milena à Lusa.
Sobre se o Papa virá ao Peru, diferenciando-se do antecessor Francisco que não foi à Argentina, Milena refletiu: "Enquanto estivermos todos em oração, não há problema. Onde ele estiver, nós continuaremos a somar para a Igreja".
O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito Papa na quinta-feira, após dois dias de conclave, na Cidade do Vaticano, e assumiu o nome de Leão XIV.
Leão XIV, que pertence à Ordem de Santo Agostinho e era o prefeito do Dicastério para os Bispos, sucedeu a Francisco, que morreu em 21 de abril, aos 88 anos.
Leia Também: Cidade de Leão XIV no Peru celebra chegada ao Vaticano com missa campal