Charlie Hopkins, um dos últimos reclusos vivos da emblemática prisão de Alcatraz, nos Estados Unidos, recordou os três anos em que esteve ali preso, após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter ordenado a expansão e reabertura do estabelecimento que está fechado há mais de 60 anos.
Segundo a BBC, Hopkins, atualmente com 93 anos, foi enviado para Alcatraz, na baía de São Francisco, em 1955, depois de ter causado problemas noutras prisões, para cumprir uma pena de 17 anos por rapto e roubo.
Quase 70 anos depois, o ex-recluso diz que ainda se lembra do "silêncio mortal" que havia durante a noite na sua cela. "É um som solitário", disse Hopkins. "Faz-nos lembrar Hank Williams a cantar aquela canção, 'I'm So Lonesome I Could Cry'."
Segundo Hopkins, que chegou à prisão de alta segurança após ser transferido de um estabelecimento prisional de Atlanta, havia poucas distrações no local. Na altura não havia rádio e havia poucos livros.
"Não havia nada para fazer", disse. "Podia-se andar para trás e para a frente na cela ou fazer flexões."
Hopkins - que foi condenado em 1952, em Jacksonville, no estado da Florida, por roubos e raptos - contou que, apesar de se tratar de uma prisão de alta segurança, ainda esteve envolvido em alguns "sarilhos" que o enviaram para o "Bloco D" - uma solitária onde os reclusos que se comportavam mal eram mantidos e raramente eram deixados sair das suas celas.
O homem chegou a ficar seis meses na solitária, após ter tentado ajudar alguns prisioneiros a fugir de Alcatraz. À BBC, contou que ajudou a roubar lâminas de serra da oficina elétrica da prisão para cortar as grades.
No entanto, o plano não resultou e os guardas prisionais acabaram por encontrar as lâminas nas celas de outros reclusos. "Poucos dias depois de os prenderem, prenderam-me a mim", disse.
Hopkins deixou Alcatraz cinco anos antes do seu encerramento definitivo. Foi transferido para uma prisão em Springfield, no Missouri, e recebeu medicação psiquiátrica que melhorou o seu comportamento e o ajudou a curar problemas psicológicos.
Foi libertado em 1963 e regressou ao seu estado natal, a Florida, onde tem agora uma filha e um neto.
Donald Trump anunciou, na semana passada, ter ordenado a expansão e a reabertura da emblemática prisão de Alcatraz para encarcerar os "criminosos mais perigosos e violentos" do país.
A prisão, onde estiveram detidos alguns dos maiores chefes da máfia, incluindo Al Capone, foi encerrada após apenas 29 anos de serviço, devido a custos de funcionamento excessivos, de acordo com o Departamento de Prisões, responsável pela administração das prisões federais no país.
A prisão de segurança máxima entrou para a história em 1962, com a fuga de três reclusos, entre os quais Frank Morris, que inspirou um livro em 1963 ('Escape from Alcatraz') de J. Campbell Bruce, seguindo-se um filme, em 1979, com o mesmo título, da autoria de Don Siegel e protagonizado por Clint Eastwood.
O isolamento geográfico desta prisão, situada num ilhéu rochoso, gerou numerosos custos, como o transporte por barco de alimentos e de 3,8 milhões de litros de água potável por semana, uma vez que a ilha não tem qualquer fonte de água doce.
Segundo estimativas, foram gastos entre três e cinco milhões de dólares (2,64 e 4,41 milhões de euros) na restauração e conservação das instalações, com o objetivo de as manter abertas, de acordo com a mesma fonte.
Durante os 29 anos de serviço, a população média de Alcatraz situou-se entre 260 e 275 reclusos, de acordo com o BOP, ou seja, menos de 1% do total da população dos estabelecimentos prisionais.
"Em Alcatraz, um prisioneiro (tinha) quatro direitos: alimentação, vestuário, alojamento e cuidados médicos. Tudo o resto era um privilégio que tinha de ser conquistado. Entre os privilégios que um prisioneiro podia adquirir, contavam-se trabalho, correspondência e visitas de familiares, acesso à biblioteca da prisão e atividades recreativas como pintura e música", detalhou a agência federal.
Situada a dois quilómetros da costa, a antiga prisão é agora uma atração turística na baía de São Francisco, na Califórnia. Todos os anos, o ilhéu rochoso atrai mais de um milhão de visitantes de todo o mundo.
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