"Reitero o meu apelo para a libertação imediata e incondicional de todos os reféns, para um acesso humanitário sem entraves e para a cessação imediata das hostilidades" na Faixa de Gaza, afirmou António Guterres, em Berlim, onde se encontra de visita, ironicamente observando que "uma nova intervenção militar maciça [do Exército israelita] não resolverá o problema".
Também o chanceler alemão, Friedrich Merz, exortou "todas as partes envolvidas" a impedir o mais rapidamente possível "uma fome" em Gaza, um apelo repetido pelo Conselho Central dos Judeus na Alemanha, que instou o Governo israelita a assumir as responsabilidades para com os civis.
"É uma obrigação humanitária para todas as partes, e apelo a todas as partes para que garantam o mais rapidamente possível que a fome na região seja evitada", declarou no parlamento o chefe do Governo alemão, um aliado inabalável de Israel.
Merz disse esperar que as negociações para um cessar-fogo e para a libertação dos reféns ainda mantidos em cativeiro pelo movimento islamita palestiniano Hamas, entre os quais cidadãos alemães, sejam bem-sucedidas.
"O risco de fazer vítimas civis deve ser reduzido ao mínimo", defendeu o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, em declarações ao jornal Tagesspiegel.
"O Governo israelita deve aceitar que tem uma responsabilidade para com a população civil de Gaza, o que inclui a autorização para o encaminhamento de ajuda humanitária", acrescentou.
A Alemanha, país responsável pelo Holocausto e que elevou a existência de Israel à categoria de "razão de Estado", celebra esta semana o 60.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas com Israel, é um dos mais firmes apoiantes do país e tem-se mantido muito comedida nos comentários sobre a guerra que o Governo israelita trava na Faixa de Gaza.
Na segunda-feira à noite, o Presidente francês, Emmanuel Macron, emitiu críticas bastante fortes ao Governo de Benjamin Netanyahu, classificando a operação na Faixa de Gaza como "inaceitável e uma vergonha".
Hoje, o novo chanceler alemão afirmou que fará depender a continuidade da ajuda alemã à Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) de esta proceder a "reformas profundas".
Numa conferência de imprensa com o secretário-geral da ONU em Berlim, Merz sublinhou que a Alemanha continuará a ser um dos maiores contribuidores para a organização multilateral.
"O apoio alemão à UNRWA dependerá da realização de reformas profundas", afirmou, sem especificar se se trata ou não das mesmas reformas que a agência se comprometeu a fazer no ano passado para reforçar os seus mecanismos de controlo de segurança.
Em abril de 2024, a comissão independente criada para investigar as alegações israelitas de que a UNRWA tinha membros do Hamas infiltrados concluiu que os mecanismos de controlo da UNRWA são robustos, mas que há margem para melhorias.
Merz e Guterres debateram também os problemas de financiamento da ONU, devido à redução das contribuições dos Estados Unidos.
"A solução é assegurar que a comunidade internacional deixa claro aos doadores que têm de honrar os compromissos", afirmou Guterres.
O secretário-geral garantiu que a ONU "não vai entrar em colapso" devido aos cortes que estão a ocorrer, mas que estes estão indubitavelmente a repercutir-se nas pessoas cujas circunstâncias as tornam dependentes dos programas afetados para subsistir.
Guterres reiterou ainda que a organização fará tudo o que estiver ao seu alcance para cumprir a missão, tornando-se mais eficiente e emagrecendo as estruturas, o que "é necessário em tempos difíceis".
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