O Tribunal Supremo de Espanha disse, em comunicado, que na sequência de um relatório de uma investigação policial a um antigo ministro dos Transportes de Sánchez (José Luis Ábalos), a justiça concluiu haver também "indícios consistentes" contra Santos Cerdán, por suspeita de negociação de comissões de pelo menos 620 mil euros na adjudicação de obras públicas.
O Supremo pediu por isso a Santos Cerdán para prestar declarações perante um juiz no próximo dia 25 junho.
Santos Cerdán, que tem imunidade parlamentar por ser deputado, disse aos jornalistas que vai ao Supremo prestar declarações naquele dia e negou as suspeitas. Horas mais tarde, demitiu-se também da direção do PSOE e garantiu que vai renunciar ao lugar de deputado, reiterando a sua inocência.
O ex-ministro José Luis Ábalos e um antigo assessor Koldo García começaram a ser investigados no ano passado pela suspeita de terem cobrado comissões pela venda a organismos públicos de material sanitário, incluindo máscaras, durante a pandemia da covid-19.
A investigação foi sendo alargada, à medida que foram recolhidas provas, documentos e testemunhos pela unidade da Guarda Civil espanhola com competências de investigação policial (conhecida como UCO).
As suspeitas contra Santos Cerdán, que tem o cargo de secretário de Organização do PSOE, o partido liderado por Sánchez, resultaram de gravações de conversas telefónicas apreendidas pela UCO entre o dirigente socialista e Koldo Garcia e entre este e Ábalos. O relatório cita ainda mensagens escritas entre Cerdán e García.
Além da suspeita de corrupção, com a negociação do pagamento de comissões por empresas de construção pela adjudicação de obras públicas, o relatório policial sugere que nas primárias do PSOE de 2014, que tornaram Pedro Sánchez líder do partido, houve também manipulação de votos a favor do atual secretário-geral.
Ábalos foi ministro entre 2018 e 2021 e, perante as suspeitas de corrupção, foi expulso do PSOE em 2024. Santos Cerdán era o 'número 3' do PSOE desde 2017.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro desde 2018, voltou a ser eleito para o cargo pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, por uma geringonça de oito partidos.
Desde que foi reinvestido no cargo, pessoas próximas do primeiro-ministro, como a mulher ou o irmão, e antigos membros do Governo e da direção PSOE, foram envolvidos em processos judiciais por suspeitas de corrupção.
Até agora, Sánchez e a direção do PSOE têm negado qualquer acusação e atribuem os sucessivos casos a manipulações e a campanhas de desinformação e 'fake news' alimentadas pela oposição de direita e extrema-direita.
Perante sucessivas polémicas, Sánchez tem ouvido, porém, nas últimas semanas, apelos e críticas que vão além da oposição de direita.
Dirigentes do PSOE e do Somar, o partido de esquerda que está na coligação de Governo com os socialistas, pediram "contundência" ao partido na resposta a alguns casos.
Perante as últimas notícias a envolver Santos Cerdán, a ministra do Trabalho e dirigente do Somar, Yolanda Díaz, pediu ao PSOE "explicações o quanto antes" perante "a manifesta gravidade" do caso e um assunto "muito sério".
Outros partidos que viabilizaram o último Governo espanhol, como o Podemos ou a Esquerda Republicana da Catalunha, consideraram que perante o caso Santos Cerdán, Sánchez tem de ir ao parlamento dar explicações.
Para o Podemos, se se confirmarem as suspeitas, já não se trataria apenas de "uma maçã podre", como se pensava ser o "caso Ábalos", mas de um "gravíssimo caso" de corrupção na cúpula do PSOE.
O Partido Popular (PP, direita), a maior força da oposição, voltou a considerar que há "uma máfia" na direção do PSOE e em redor do primeiro-ministro.
No final da semana passada, Sánchez disse que a atual legislatura espanhola será cumprida até ao fim (em 2027), face a apelos da oposição e de vozes do próprio partido para antecipar as legislativas, perante as diversas polémicas.
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