O lançamento, realizado em setembro do ano passado, provocou alarme no Pacífico Sul, depois de um míssil balístico intercontinental (ICBM), disparado pelas Forças Armadas chinesas com uma ogiva inerte, ter caído perto da Polinésia Francesa.
Notas confidenciais dirigidas ao Governo neozelandês revelam a preocupação de Wellington com o incidente. "Estamos preocupados com o facto de a China o ter classificado como 'um teste de rotina'", escreveram altos diplomatas numa nota enviada ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Winston Peters.
"Isto não é rotina: a China não realiza testes deste tipo há mais de 40 anos", descreveram.
A AFP afirma ter acedido aos documentos, redigidos entre setembro e outubro de 2024, ao abrigo da lei de acesso à informação, embora com partes censuradas.
Na altura, Pequim descreveu o lançamento como "um exercício legítimo e habitual". Nos bastidores, porém, os diplomatas neozelandeses consideraram essa descrição como "enganadora".
"Sendo esta a primeira vez, em vários anos, que a China realiza uma ação deste tipo no Pacífico, trata-se de um desenvolvimento novo, significativo e preocupante", reiteraram os diplomatas, num dos documentos consultados pela agência de notícias francesa.
A China tem vindo a expandir a sua presença no Pacífico Sul, através de programas de desenvolvimento em vários Estados insulares, incluindo a construção de estradas, hospitais e infraestruturas desportivas.
No entanto, raramente realiza demonstrações de força militar naquela região, tradicionalmente sob influência de parceiros de segurança como os Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia.
O teste ocorreu em 25 de setembro. Imagens divulgadas por Pequim mostram um projétil a subir no céu, a partir de uma localização secreta, deixando uma coluna de fumo. Analistas sugerem que se terá tratado de um míssil Dong Feng-31, um modelo com capacidade nuclear.
A região do Pacífico está historicamente marcada pelos testes nucleares realizados ao longo de cinco décadas. O míssil chinês caiu numa zona considerada livre de armas nucleares ao abrigo de um tratado internacional em vigor desde 1986. "É a primeira vez que temos conhecimento do teste de um míssil com capacidade nuclear nesta zona desde a sua criação", indicaram os diplomatas neozelandeses.
Segundo documentos obtidos pela AFP, a China avisou a Nova Zelândia, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e a Austrália antes do teste, mas forneceu poucos detalhes. Os países do Pacífico insular, por sua vez, "não foram avisados do lançamento", apontaram os diplomatas.
Após o incidente, o Japão manifestou "profunda preocupação", a Austrália alertou para o risco de "desestabilização" da região e as Fiji apelaram ao "respeito pela região".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China argumentou na terça-feira que "os factos são claros e que ninguém foi induzido em erro".
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