Numa semana de protestos contra as rusgas de imigração em Los Angeles, o governador da Califórnia Gavin Newsom emergiu como líder da resistência democrata ao Presidente Donald Trump, desafiando-o em frente às câmaras e nos tribunais.
É um ressurgimento do perfil presidenciável de Gavin Newsom, que já tinha sido visto como potencial sucessor de Joe Biden se o ex-presidente não tivesse decidido recandidatar-se.
Com o segundo mandato de governador da Califórnia a terminar em 2026, sem possibilidade de um terceiro, Newsom volta a aparecer como uma das figuras mais proeminentes do partido, assumindo a oposição vigorosa às políticas de Donald Trump.
Essa era uma posição que tinha enfraquecido nos últimos tempos. Em janeiro, o governador recebeu Trump na Califórnia e conseguiu um acordo para mitigar os efeitos devastadores dos fogos em Los Angeles. Em março, levantou sobrolhos à esquerda quando lançou o podcast "This is Gavin Newsom" e convidou uma série de personalidades conservadoras para conversar.
A lista incluiu Charlie Kirk, cofundador da organização ultraconservadora Turning Point USA, Steve Bannon, ex-estratega de Trump, e o apresentador Dr. Phil, que tem sido convidado pela agência ICE a apoiar as rusgas contra imigrantes ilegais.
Além de declarações polémicas, como a de considerar injusta a participação de transexuais em desportos femininos, Newsom também propôs suspender os benefícios no sistema de saúde Medi-Cal a imigrantes sem documentos, o que foi entendido como um movimento para o centro, que enfureceu a ala progressista dos democratas.
No entanto, a resposta musculada de Gavin Newsom às ações de Donald Trump em Los Angeles -- para onde o Presidente mobilizou 4.000 membros da Guarda Nacional e 700 Fuzileiros -- reposicionaram o democrata.
Newsom processou Trump pela mobilização de militares contra a sua vontade e opõe-se às rusgas de imigração, que pretendem deter milhares de pessoas por dia e deportá-las em seguida.
Num comunicado ao país, onde caracterizou o Presidente como autoritário, Newson acusou Trump de abuso de poder e avisou que a democracia está sob assalto.
Também prometeu que a Califórnia continuará a lutar pelo seu povo e contra o açambarcamento de poderes estaduais pelo governo federal.
Este é um embate importante para o democrata de 57 anos, que começou a sua carreira política em 1996, quando foi nomeado pelo então mayor de São Francisco, Willie Brown, para o comité de tráfego da cidade.
Daí foi eleito para o conselho de supervisores, em 1998, e em 2003 concorreu ao cargo de mayor da sua cidade-natal, vencendo a corrida e servindo na posição até 2011.
Foi considerado moderado em termos económicos e fiscais mas desafiou o 'status quo' quando autorizou São Francisco a emitir licenças de casamento entre pessoas do mesmo sexo, muito antes da respetiva legalização na Califórnia e no país.
Licenciado em Ciência Política pela Universidade de Santa Clara, onde tinha recebido uma bolsa parcial, Newsom foi empresário antes de se lançar na política: fundou uma adega que se tornou no PlumpJack Group, uma cadeia diversificada de negócios de vinho e hotelaria.
As aspirações políticas falaram, porém, mais alto e, depois de sair do cargo de mayor de São Francisco, rumou a Sacramento como vice-governador da Califórnia. Foi aí que aprendeu a mover-se nos corredores do poder, conseguindo ser eleito governador do estado mais populoso do país em 2018, com 62% dos votos.
O momento mais difícil do mandato foi a gestão da pandemia de covid-19, com muitos protestos relativos ao confinamento e às suas consequências económicas. Em 2021, enfrentou e derrotou uma tentativa de destituição, que falhou porque manteve altos níveis de popularidade, e foi reeleito governador em 2022.
Casado com Jennifer Siebel desde 2008, Gavin Christopher Newsom tem quatro filhos e sofre de dislexia, o que dificultou os estudos em criança.
Antes da atual mulher, foi casado com a advogada Kimberly Guilfoyle, que mais tarde se tornou numa personalidade televisiva da Fox News, noiva de Donald Trump Jr. e atual embaixadora dos Estados Unidos na Grécia por nomeação de Donald Trump.
Quando lançou o seu podcast, correram rumores de que estaria a aconselhar-se junto de Guilfoyle sobre personalidades MAGA (Make America Great Again) do partido republicano, que poderia vir a dar voz.
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