O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, considerou que uma mudança de regime no Irão é "inaceitável" e que o assassínio do líder supremo do país, o 'ayatollah' Ali Khamenei, seria "abrir a caixa de Pandora".
Em entrevista à Sky News, a partir de São Petersburgo, na Rússia, Peskov afirmou que a situação no Médio Oriente "é extremamente tensa e perigosa não só para a região, mas para o mundo inteiro".
Após o presidente norte-americano, Donald Trump, ter revelado que irá decidir nas próximas duas semanas se Washington se envolverá diretamente na guerra entre o Irão e Israel, o porta-voz da presidência russa considerou que "um aumento do número de participantes no conflito é potencialmente ainda mais perigoso" e "só levará a mais um ciclo de confronto e escalada da tensão na região".
Já confrontado com outras declarações de Trump, que afirmou que os Estados Unidos e Israel não pretendem assassinar Khamenei "por enquanto", Peskov considerou que uma mudança no regime do Irão seria "inimaginável".
"Deveria ser inaceitável, até mesmo falar sobre isso deveria ser inaceitável para todos", defendeu. "Isso levaria ao surgimento de sentimentos extremistas dentro do Irão, e os que estão a falar sobre [matar Khamenei] devem ter isso em mente. Eles abrirão a caixa de Pandora".
Na quinta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, também disse não quer sequer considerar a possibilidade de um assassinato do líder supremo do Irão.
"Não quero sequer falar sobre essa possibilidade. Ouvi esses rumores, mas não quero comentar", disse Putin, durante um encontro com representantes de várias agências de notícias internacionais, no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo.
Putin ofereceu-se ainda como mediador para alcançar um cessar dos bombardeamentos entre o Irão e Israel. Em resposta, Trump defendeu que o presidente russo deveria "mediar o seu conflito" primeiro, referindo-se à guerra na Ucrânia.
"Ele ofereceu-se para ajudar a mediar, e eu disse: 'Faça-me um favor, medie o seu [conflito]. Vamos mediar a Rússia primeiro, ok?'", contou Trump aos jornalistas na Casa Branca, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). "Eu disse: 'Vladimir, vamos mediar a Rússia primeiro, podes preocupar-te com isso depois'".
Recorde-se que a Força Aérea de Israel começou a bombardear o Irão na madrugada de sexta-feira passada, apontando os alegados avanços do programa nuclear de Teerão e a ameaça que diz representar o fabrico de mísseis balísticos.
O Irão, que nega ter construído armas nucleares e reivindica o direito de enriquecer urânio para desenvolver um programa nuclear civil, ripostou com o lançamento de mísseis e drones contra várias cidades israelitas.
Os números oficiais de mortos, incluindo civis, confirmados oficialmente nos primeiros dias, não são atualizados há vários dias em ambos os lados da frente da guerra, assim como não são divulgados objetivos militares atingidos.
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