Resposta institucional ao ódio online em Portugal é "ridícula"

A resposta institucional em Portugal no combate ao discurso de ódio nas redes sociais "é absolutamente ridícula", considerou a investigadora Rita Guerra, que alertou para os perigos da normalização do fenómeno e para a falta de monitorização.

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Lusa
18/06/2025 07:12 ‧ há 5 horas por Lusa

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Hoje assinala-se o Dia Internacional de Combate ao Discurso de Ódio, instituído pelas Nações Unidas para alertar para os perigos do discurso de ódio e promover medidas de combate, e a investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE (CIS_ISCTE) diz que haverá uma mensagem institucional numa qualquer rede social para dizer que é fundamental celebrar esta data, mas pouco mais.

 

"Tenho a certeza que algum dos ministérios o irá fazer (...) mas depois paramos por aqui. Não há um investimento e um reflexo de preocupação institucional sobre este tema a par, por exemplo, do que se vê no discurso securitário e na preocupação com a insegurança falsamente associada (...) às populações imigrantes", criticou.

Rita Guerra, com trabalho sobre discurso de ódio e que coordenou o projeto 'kNOwHATE', que procurou estudar e compreender o discurso de ódio 'online', afirmou que este não é um assunto que esteja na ordem do dia e que não é visto como um problema.

"Acho que a nossa resposta a este tipo de fenómenos, do ponto de vista institucional, é absolutamente ridícula", com "alguns sinais de boa vontade", como a criação do Observatório para o Racismo e a Xenofobia, que "depois se tornam quase inoperacionais", considerou.

Defende que o trabalho feito até aqui sobre este fenómeno tem partido sobretudo da sociedade civil e das associações de defesa dos direitos humanos, ao mesmo tempo que a resposta do ponto de vista institucional tem sido "para lá de parca".

Afirmou que Portugal tem "um longo caminho pela frente", a começar por nem sequer haver consenso sobre o facto de o discurso de ódio ser um problema, denunciando o pouco conhecimento que existe sobre o fenómeno e a falta de monitorização, alertando que só conhecendo será possível encontrar as respostas adequadas para o combater.

Rita Guerra chamou também a atenção para algo que já está a ser estudado em outros países europeus e que tem a ver com a "estreita ligação" entre o discurso de ódio 'online' e os crimes de ódio offline.

"Em Portugal não vemos isso porque infelizmente não monitorizamos estes fenómenos", salientou.

Opinião partilhada por Paula Carvalho, docente e investigadora da Universidade de Aveiro, que colaborou no projeto 'kNOwHATE' e liderou o projeto 'Hate Covid-19', sobre análise e deteção de discurso de ódio nas plataformas 'online' e em português.

"Aquilo que se vive nas redes sociais é um espelho daquilo que acontece na realidade. Portanto, há uma relação estreita entre os fenómenos sociais e os eventos que acontecem num determinado momento e a forma como estas reações são amplificadas nas redes sociais", defendeu.

Apontou que esta relação não pode ser ignorada, bem como "a relação muito estreita entre aquilo que é a desinformação e o discurso de ódio", tendo em conta que as redes sociais "são, muitas vezes, as redes perfeitas para veicular desinformação".

"Se nas redes sociais se veiculam, muitas vezes, informações que são explicitamente falsas, ou seja, que são criadas com o objetivo de enganar o outro, e as pessoas se reveem nesse tipo de desinformação, isto desencadeia uma reação em grupo", explicou.

Defendeu, por isso, que é preciso continuar a estudar o fenómeno, sobretudo a forma como ele se materializa e mobiliza, tendo em conta as variáveis históricas, culturais e geográficas.

Para Paula Carvalho, o combate ao discurso de ódio passa pela formação e pela educação e não se faz com uma só medida, sublinhando a importância do envolvimento da comunicação social e dos órgãos governamentais, bem como a responsabilização das redes sociais.

Rita Guerra alertou para os perigos da normalização e de como está demonstrado que quanto maior a exposição aos discursos de ódio, mais as pessoas normalizam esse mesmo discurso, e veem como "normal insultar, normal desumanizar ou normal dizer: 'punha-os todos num barco e mandava-os daqui para fora'".

"A dessensibilização e a normalização destes fenómenos tem um enorme risco, que é a nossa incapacidade de os reconhecermos e, consequentemente, a nossa incapacidade de fazermos alguma coisa para os combater", apontou.

A investigadora afirmou que o discurso de ódio é um fenómeno que "evolui com uma rapidez estonteante, principalmente o fenómeno online" e defendeu uma resposta de combate "multiator e multifatorial", que seja jurídica, científica, com a sociedade civil e com educação para os direitos humanos.

Leia Também: Crimes de incitamento ao ódio e violência aumentaram mais de 200%

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