De acordo com o "Relatório Global sobre Deslocações Internas 2025" publicado hoje pelo Centro de Monitorização das Deslocações Internas (IDMC), uma ONG que faz parte do Conselho Norueguês para os Refugiados, a região "registou 19,3 milhões de deslocações internas em 2024", o que totalizou em 38,8 milhões o número de deslocados na África Subsariana.
"Alguns dos países com o maior número de pessoas deslocadas em resultado de conflitos e violência, incluindo a RDCongo, Moçambique, Nigéria e Sudão, também registaram deslocações significativas devido a catástrofes [naturais]", explicou a entidade.
O Sudão é o país com uma das crises humanitárias "mais negligenciadas do mundo" e tinha 11,6 milhões de pessoas deslocadas no final de 2024 por causa da guerra civil que enfrenta desde 15 de abril de 2023.
Por sua vez, a República Democrática do Congo (RDCongo), nação vizinha de Angola, foi responsável por 6,2 milhões de deslocações internas associadas a conflitos e violência em 2024, o número mais elevado de que há registo no país, citou a ONG.
A Nigéria registou 295.000 deslocações associadas a conflitos e violência em 2024.
De acordo com a investigação, o número de deslocações internas associadas a catástrofes também atingiu o valor mais elevado de sempre em 2024, e muitos países registaram valores recorde.
Por exemplo, no Chade, as cheias provocaram mais deslocações em 2024 - cerca de 1,3 milhões de pessoas - do que nos últimos 15 anos, alerta-se no estudo.
Em Moçambique, o ciclone Chido atingiu uma população "já desenraizada pelo conflito e pela violência, prolongando a sua deslocação e atrasando a sua recuperação", citou.
Segundo uma tabela do relatório, em Moçambique, mais precisamente em Cabo Delgado, no norte, 240.000 pessoas foram deslocadas internamente em 2024 por conflitos e violência e 585.000 por desastres naturais - 536.000 das quais devido ao ciclone Chido.
"No final do ano, mais de 718.000 pessoas viviam deslocadas em Moçambique", referiu a entidade.
Apesar de 79% das deslocações provocadas pelo ciclone Chido terem sido em Moçambique, também o território ultramarino francês de Mayotte sofreu com esta catástrofe e registou cerca de 142.000 deslocações.
A ONG alertou que todos os anos "são gastos milhares de milhões de dólares em ajuda internacional às pessoas afetadas por deslocações internas, mas o financiamento humanitário tem vindo a diminuir e, pela sua natureza, destina-se apenas a prestar apoio temporário".
A África Austral foi afetada pela pior seca do século e deixou cerca de 23 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda.
Consequentemente, foram registadas 273.000 deslocações no Botsuana, Malaui, Zâmbia e Zimbabué, indicou.
Em Angola, país lusófono da África Austral, o relatório precisou que houve 85.000 deslocações internas devido a desastres naturais em 2024.
Esta é a décima edição do relatório, em que se estima que 83,4 milhões de pessoas estavam a viver deslocadas internamente no final de 2024, mais do dobro registado há dez anos, lamentou a ONG.
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