A decisão de Bruxelas de não avançar com o Diálogo Económico e Comercial de Alto Nível UE-China sublinha as profundas divergências entre as partes, apesar dos esforços de Pequim para reforçar laços com a Europa, num contexto de rivalidade com os Estados Unidos.
Esta reunião é habitualmente usada para preparar a cimeira de líderes, agendada este ano para 24 e 25 de julho, em Pequim, e que assinala os 50 anos de relações diplomáticas entre a China e o bloco europeu.
"Pequim quer realizar o encontro, mas não estamos a ver avanços em nenhuma das nossas conversações", disse ao jornal britânico uma das fontes, que pediu para não ser identificada.
Segundo um alto responsável europeu, que falou também sob anonimato, o bloco só aceitaria realizar a reunião, caso existissem acordos a implementar durante a cimeira.
A relação entre a UE e a China foi abalada nos últimos anos por crescentes disputas comerciais. Em 2023, Bruxelas impôs tarifas sobre veículos elétricos chineses, devido a subsídios estatais considerados excessivos. Pequim respondeu com taxas 'antidumping' sobre o brandy europeu e investigações a subsídios à carne de porco e a certos produtos lácteos, que podem levar a novas sanções comerciais.
Nas últimas semanas, a UE proibiu dispositivos médicos chineses na maioria dos concursos públicos e aplicou tarifas 'antidumping' à madeira compensada vinda da China.
A prática de 'dumping' consiste na venda a preços inferiores ao custo de produção.
As tensões intensificaram-se ainda mais após a imposição por parte de Pequim de restrições à exportação de terras raras, em retaliação pelas tarifas norte-americanas.
A emissão lenta de licenças de exportação por parte das autoridades chinesas levou já algumas empresas europeias a alertarem para possíveis suspensões de produção.
As terras raras são cruciais para a produção de eletrónica, veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos de defesa, e a China detém praticamente o monopólio da sua extração e processamento.
A ausência de diálogo económico poderá reduzir as expectativas de resultados concretos na cimeira, ainda que um outro responsável da UE tenha sublinhado que estas reuniões são irregulares e nem sempre precedem os encontros de alto nível.
Pequim será representada na cimeira pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e não pelo Presidente chinês, Xi Jinping, apesar de o encontro decorrer na capital chinesa e de se assinalarem 50 anos de relações bilaterais, algo que foi entendido em Bruxelas como uma desconsideração diplomática.
O Presidente do Conselho Europeu, António Costa, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, devem representar o grupo dos 27.
Na última cimeira, realizada em dezembro de 2023, os encontros preparatórios envolveram o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, e o comissário europeu para o Comércio, Valdis Dombrovskis, que abordou então as dificuldades de acesso ao mercado chinês por empresas europeias, especialmente nos setores agroalimentar, dispositivos médicos, cosméticos e leite em pó infantil.
Segundo Maria Martin-Prat, principal responsável da Comissão Europeia para as relações comerciais com a China, a maioria destas questões mantém-se por resolver.
"Há muito trabalho a fazer até à cimeira", afirmou a responsável numa conferência em Bruxelas, a 05 de junho, acrescentando que se tratam de temas discutidos "há já bastante tempo", como a aplicação de leis em prejuízo de empresas estrangeiras, regulamentos sobre dados e legislação contra espionagem.
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