Das cerca de trinta pessoas encontradas pela agência de notícias France-Presse (AFP) junto ao posto de controlo, em frente do qual esperavam dezenas de camiões com matrícula iraniana, ninguém quis falar para a câmara.
Na direção oposta, a estrada que liga o Irão ao Curdistão iraquiano estava praticamente deserta.
Os poucos iranianos que aceitaram falar do quotidiano durante a guerra fizeram-no a coberto de um pseudónimo, o que ilustra o medo suscitado pelo aparelho repressivo do Governo iraniano.
Fattah, um camionista de 40 anos, preparava-se para percorrer 1.700 quilómetros no Irão, de norte a sul, para entregar a carga de alcatrão em Bandar Abbas, antes de regressar a casa em Marivan, uma cidade do Curdistão iraniano.
"A minha rota passa perto da central nuclear de Natanz", disse o camionista, referindo-se a um dos primeiros alvos do ataque israelita ao Irão, em 13 de junho.
Fattah disse que a vida quotidiana no Irão se tornou complicada para si por "um problema de abastecimento de gasóleo e gasolina".
"Antigamente, podíamos abastecer a qualquer hora", lamentou o homem vestido com um traje tradicional curdo.
"Agora, os postos estão cheios e os preços subiram", referiu.
Mas, pelo menos, pôde abastecer-se no Iraque de provisões para a família, porque no Irão "há falta de alimentos como arroz, pão, açúcar e chá".
Aram, 28 anos, que chegou ao Iraque há três dias, atribuiu a escassez ao pânico que se apoderou da população, que se apressou a "comprar grandes quantidades de produtos de primeira necessidade e a armazená-los em casa".
Em Sandandaj (oeste), "a nossa casa fica perto de um quartel militar que foi bombardeado", contou Aram, pai de dois filhos, que telefona todos os dias à mulher.
"A família está bem, mas mudou-se para casa de familiares numa aldeia" fora da cidade, disse.
A mulher contou-lhe que várias famílias que viviam perto de zona das forças armadas fizeram o mesmo, afastando-se das "zonas militares".
Negociante de automóveis na cidade de Boukan, no noroeste do país, Shwan disse também que os aviões bombardearam "zonas militares" na região em várias ocasiões.
"As pessoas estão em estado de choque e perturbadas, não sabem o que fazer", afirmou.
"A situação económica é muito difícil", disse o jovem curdo, que foi contactado pela AFP através de uma aplicação de telemóvel e teve dificuldade em enviar mensagens de voz devido à interrupção da Internet no Irão.
"Há uma enorme falta de pão e as pessoas estão a afluir às padarias. Por vezes, quatro famílias andam à volta das padarias para encontrar pão suficiente", continuou.
Shwan disse que era "difícil arranjar arroz ou óleo" e que os funcionários do Estado ainda não tinham recebido o salário.
Avin, uma costureira de 38 anos da cidade de Saqqez, no noroeste do país, admitiu que o conflito "semeou o medo entre os habitantes", apesar de a zona onde vive não ter sido diretamente afetada pelos ataques israelitas.
"Algumas famílias com crianças pequenas partiram para aldeias fora da cidade", explicou, também contactada pela AFP através de uma aplicação de telemóvel.
Avin reconheceu também as dificuldades de abastecimento.
"A maior parte das provisões vem de Teerão e, por isso, o mercado da nossa cidade está praticamente parado", contou.
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