"As recentes crises perturbam a cadeia de abastecimento, aumentando os preços dos produtos de base e, consequentemente, as pressões sobre a inflação de São Tomé e Príncipe", disse Thibault Lemaire.
Em entrevista à Lusa no final dos Encontros da Primavera do Banco Mundial e do FMI, que terminaram no sábado em Washington, o economista disse que "um desafio importante" para o arquipélago é controlar a subida dos preços, que o FMI prevê que seja de 9,6% este ano, uma revisão em baixa face à estimativa de 10,8% feita em outubro do ano passado.
"A inflação é muito elevada, São Tomé e Príncipe tem registado progressos notáveis no controlo da inflação, com implementação do regime de paridade fixa com o euro", reconheceu o economista, mas acrescentando: "A inflação tem-se mantido elevada devido a fatores como a fraca disciplina orçamental, a fraca capacidade produtiva interna, que torna os produtos internos menos competitivos face aos importados".
Questionado sobre o impacto do aumento das tarifas comerciais decidido pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Thibault Lemaire disse que o "impacto direto é negligenciável, mas os efeitos indiretos são importantes".
O país "depende da ajuda internacional para financiar uma parte relevante do seu orçamento e para reforçar as reservas internacionais, também através do turismo, da confiança global, e isso pode exercer pressão sobre o desempenho económico do país, sobretudo se persistirem as tensões comerciais", concluiu.
Apesar dos receios do FMI, o Governo de São Tomé e Príncipe desvalorizou o impacto da tarifa de 10% às suas exportações para os Estados Unidos, avaliando que "não constituirá nenhum problema para a economia" do país africano.
"As nossas divisas não dependem daquilo que nós exportávamos para os Estados Unidos", disse o ministro do Estado e da Economia e Finanças, numa entrevista à Lusa na semana passada em Washington, durante as reuniões do FMI e do Banco Mundial.
Mantendo um olhar positivo face ao cenário mundial, Gareth Guadalupe vê oportunidades onde muitos líderes veem desespero, e equaciona colocar em prática um projeto de "cidadania por investimento".
"Pode ser uma oportunidade para os investidores. Hoje em dia há muitos investidores à procura de oportunidades, até de ter um 'safe house' [refúgio], digamos assim. Um sítio em que saibam que têm uma habitação, mas que essa habitação lhes dá garantias de direitos de propriedade, em que possam fazer um investimento", indicou.
À semelhança de Portugal, que teve os 'vistos gold', São Tomé e Príncipe quer explorar o 'citizenship by investment' [cidadania por investimento].
"Estamos a ver a possibilidade de explorar um 'citizenship by investment'. Há vários parceiros interessados, mas nós temos de trabalhar o nosso quadro legal para estar devidamente enquadrado e permitido, e queremos que esse processo seja totalmente transparente. Portanto, vamos continuar a conversar com os parceiros e ver quais as possibilidades nessa matéria", afirmou à Lusa.
"Outra das coisas que podemos vir a beneficiar com a guerra comercial, como foi no tempo da pandemia, é que nós estamos a falar de um país como os EUA, que é um dos maiores consumidores mundiais, é um 'price maker' ao nível dos preços internacionais. Nesse sentido, a guerra comercial pode abrir oportunidades para uma diminuição do preço dos combustíveis. Enquanto nós não fazemos a transição energética, podemos beneficiar da diminuição dos preços dos combustíveis", concluiu.
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