"O PSD, no momento de início da campanha, resolve fazer um anúncio que traz todos os fantasmas, e que identifica bodes expiatórios, neste caso, os imigrantes. Faz política contra os imigrantes porque acha que isso lhes permite disputar votos com o Chega", criticou Mariana Mortágua.
A líder bloquista falava à margem de uma iniciativa do partido que decorreu hoje na Amadora, Lisboa, após questionada sobre o anúncio do Governo de que a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) vai começar a notificar 4.574 cidadãos estrangeiros, na próxima semana, para abandonarem o país voluntariamente em 20 dias.
O número de cidadãos expulsos do país pode ascender aos 18 mil.
Mortágua lamentou que a campanha esteja a ser "arrastada pela extrema-direita" e salientou que os imigrantes têm "exatamente os mesmos problemas" que a generalidade da população residente no país, dando como exemplo o acesso à habitação.
"Há um processo de especulação que está a dar muito dinheiro a ganhar a fundos especulativos, a bancos, a entidades de especulação imobiliária e são eles a causa desta crise e nós não vamos deixar que se encontrem bodes expiatórios, sejam eles quais forem", afirmou.
Mortágua acusou o executivo PSD/CDS-PP de ter a intenção de deportar milhares de imigrantes "sem explicar as razões, os motivos, fazendo de um ato administrativo ilegal um instrumento de campanha".
"Os imigrantes trabalham em Portugal e a prova disso é que o Governo apressou-se a fazer uma via verde para garantir que alguém vinha construir as pontes e que alguém vinha construir as casas e que alguém vinha construir os hotéis. Só há um problema: essas pessoas têm que viver como nós, têm que ter uma casa para habitar, um salário para ganhar. E por isso, quando nós protegemos imigrantes, protegemo-nos a todos", argumentou.
A líder bloquista esteve durante a manhã num encontro onde foram abordados vários problemas da população da Amadora, como o acesso a habitação condigna ou transportes públicos, e no qual esteve presente a eurodeputada e antiga coordenadora, Catarina Martins.
Num formato que deverá dominar a campanha do BE, Mariana Mortágua esteve durante cerca de duas horas apenas a ouvir moradores do concelho numa mesa-redonda moderada pela antiga eurodeputada e candidata do BE à Câmara Municipal da Amadora, Anabela Rodrigues. Participou também neste encontro Cláudia Simões, cidadã que em 2020 foi agredida por um agente da PSP cuja absolvição foi recentemente revertida pelo Tribunal da Relação de Lisboa.
No final, em declarações aos jornalistas, Mariana Mortágua rejeitou fazer "uma campanha de meta política", conceito que definiu como "os políticos a falar de si próprios em vez de falarem da vida das pessoas", e insistiu na proposta do BE de impor tetos máximos às rendas.
Interrogada sobre o pedido do Presidente da República, que na sexta-feira disse esperar que os partidos expliquem, até às eleições legislativas antecipadas, com que bases de apoio pensam aplicar as suas propostas e evitar crises políticas, Mariana Mortágua respondeu que o BE "quer ser essa fonte de estabilidade".
De acordo com a líder bloquista, o partido "está disponível para conversar sobre medidas concretas, sobre como baixar o preço da habitação, sobre como subir salários".
"Fomos e sabemos ser solução, já o fomos, iremos ser o de novo com certeza", afirmou, numa referência à geringonça, solução parlamentar que juntou PS, BE, PCP e PEV em 2015.
[Notícia atualizada às 13h23]
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