"Salários, salários, salários", repetiu por diversas vezes o secretário-geral do PCP durante esta campanha, em que insistiu no aumento dos rendimentos dos trabalhadores, mas também dos reformados e temas que quase nunca saíram dos vários discursos que fez agora de norte a sul do país, fosse em comícios ou no final de arruadas.
Também em 2024, o guião foi o mesmo, mas o secretário-geral, calejado pelas anteriores legislativas, mostrou-se mais à vontade, apelando àquilo a que chamou de sobressaltos -- dos jovens, das mulheres, dos reformados, dos pequenos e médios empresários.
A defesa da escola pública, do Serviço Nacional de Saúde, de uma rede de creches pública e o combate à precariedade laboral foram também temas recorrentes de uma campanha que também falou da cultura, do ensino superior e da mobilidade.
Nas suas intervenções, também não esqueceu conflitos internacionais. Apelou ao fim do genocídio na Palestina, recusou um aumento de investimento no armamento e defendeu a via da diplomacia para o fim da invasão da Ucrânia, tema pelo qual foi confrontado sobre a posição do PCP, numa escola, onde disse que a resposta era "simples": "Sim, condeno [a invasão]".
Recusando cair em "cascas de banana", Paulo Raimundo desvalorizou os apelos a acordos prévios à esquerda, apesar de considerar que a CDU nunca falhou às soluções.
Entre arruadas que terminavam invariavelmente em discursos, Paulo Raimundo foi distribuindo o "documentozinho" (como chama aos panfletos da CDU), beijos e abraços e até 'selfies'.
Com "mais traquejo", o secretário-geral foi distribuindo uma ou outra graça, com olhos postos no ataque, sobretudo, ao atual Governo, quer em ações de rua ou em comícios.
Prometeu pôr uns "patins bem oleados" aos que não cumprem promessas, sugeriu uma vacina "com meiguice mas bem dada" aos que atacam o Serviço Nacional de Saúde e imaginou uma "ementa que cheira à 'troika'" no almoço entre antigos líderes sociais democratas.
Em Espinho, fez referência ao "nheca nheca" que usou no debate com André Ventura, mas escusou piadas sobre a Spinumviva, tema sobre o qual não quis fazer campanha.
Sobre o Governo liderado pela AD, acusou-o de ter um projeto que leva à privatização da saúde, educação e segurança social, em ataques onde não esqueceu a Iniciativa Liberal e o Chega, que apelidou de direita "mais lavadinha" e "mais trauliteira", respetivamente.
Nos discursos de Paulo Raimundo, o PS também não ficou imune a críticas, com a CDU a atribuir aos socialistas o papel de serem aqueles que quase sempre "abrem a porta" a projetos da direita.
Depois de arruadas curtas e com pouca interação na primeira semana, o secretário-geral do PCP, que admite ser tímido e ficar "sem jeito" com receções calorosas, foi ganhando confiança, que também procurou transmitir aos militantes.
Além de momentos com apoiantes, que lhe pediam força - que Raimundo afirmou que nunca lhe falta -, o líder comunista foi também à procura do contacto com quem lhe aparecia no caminho, fosse uma jovem emigrante, uma mulher a queixar-se das rendas ou o proprietário de um pronto a vestir que não lhe dará o voto mas que lhe desejou boa sorte.
Também nos discursos, Paulo Raimundo foi entrecortando um tom mais aguerrido, quando apelou a murros na mesa, com sentido de humor para abordar a luta política, numa campanha em que o anterior líder do PCP, Jerónimo de Sousa, admitiu que o seu sucessor foi uma "surpresa extraordinária".
Ao longo destes dias, o líder comunista, com otimismo mas "sem lirismo", repetiu a ideia de a CDU crescer. Para 18 de maio, procura eleger, no mínimo, seis deputados (mais dois do que em 2024), mas com olhos postos num resultado superior, caso o sobressalto que tantas vezes pediu tenha resposta.
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