"O recente ressurgimento da violência e dos confrontos com dimensões sectárias (...) dificulta enormemente o caminho para uma paz sustentável que respeite os direitos humanos", avisou a comissão de peritos em comunicado.
O texto salientou que esta vaga de violência está a ser alimentada pela disseminação do ódio e do discurso discriminatório através das redes sociais e de outros canais.
A comissão instou todas as partes envolvidas nesta crise a procurarem o diálogo e a darem prioridade à proteção dos civis, ao acesso humanitário e a medidas que evitem mais deslocações forçadas.
Os ataques israelitas em território sírio, alegadamente em proteção dos drusos, ameaçam também causar mais fragmentação e danos aos civis, acrescentou o comunicado.
A presidência síria condenou hoje o ataque israelita junto do palácio presidencial em Damasco na passada madrugada e alertou para uma "escalada perigosa" da tensão com o país vizinho.
O texto trata o ataque da aviação israelita como uma ação desmesurada que procura "desestabilizar o país".
A presidência síria acusou Israel de atingir "a segurança nacional e a unidade do povo sírio" e pediu à comunidade internacional e aos países árabes para apoiarem Damasco face "a estes ataques hostis que violam o direito internacional".
A comunicação social síria indicou que o bombardeamento israelita sem precedentes não causou vítimas e atingiu uma área vazia perto das instalações presidenciais.
O ataque foi confirmado pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e pelo ministro da Defesa, Israel Katz, que descreveram esta operação como "uma mensagem clara ao regime sírio", no sentido de que não permitiriam ameaças à comunidade drusa.
Pelo menos quatro pessoas foram mortas hoje num outro ataque atribuído a Israel contra uma quinta localizada a oeste da cidade de Suwayda, no sul da Síria, segundo a agência noticiosa oficial Sana.
A plataforma ativista Suwayda24 indicou na rede social X que um drone israelita disparou o projétil que matou quatro habitantes da província.
Segundo testemunhas e outras fontes citadas pela organização, o drone foi alvejado por disparos de metralhadora perto da quinta enquanto a sobrevoava e, segundos depois, "respondeu bombardeando-a".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos aumentou na quinta-feira o número de mortos em confrontos armados da nova vaga de violência para 101, embora as autoridades ainda não tenham fornecido um número oficial de mortos.
Os confrontos eclodiram após a divulgação de uma gravação falsamente atribuída a um líder druso a insultar o profeta Maomé.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou hoje os ataques israelitas, incluindo o bombardeamento perto do palácio presidencial.
"É essencial que esses ataques cessem e que Israel respeite a soberania, a unidade, a integridade territorial e a independência da Síria", frisou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric.
Na quinta-feira, o líder religioso druso mais influente da Síria criticou o regime de Damasco, apontando uma "campanha genocida" contra a sua comunidade, depois dos confrontos iniciados na noite de segunda-feira.
Desde 1967, Israel ocupa os Montes Golã sírios, situados na fronteira entre os dois países e que Israel anexou unilateralmente em 1981.
Além da Síria, incluindo os Montes Golã ocupados, os drusos, uma comunidade esotérica descendente de um ramo do Islão, vivem sobretudo no Líbano e em Israel.
Desde a queda do regime do ex-presidente Bashar al-Assad, em dezembro passado, as forças israelitas atacaram centenas de vezes o território sírio e atravessaram a zona desmilitarizada no sul do país.
Nesta região, residem cerca de 24 mil membros da minoria drusa, juntamente com perto de 30 mil israelitas.
Os líderes religiosos da minoria drusa do vizinho Líbano, liderados por Sami Abi al-Muna, pediram hoje, por sua vez, o regresso da calma na Síria e medidas das autoridades de Damasco.
"Não se deixem levar pelo conflito ou pela discórdia", disse Abi al-Muna após uma reunião em Beirute com outros clérigos drusos, embaixadores de países árabes e representantes parlamentares desta comunidade religiosa.
O líder espiritual druso pediu moderação e alertou para provocações sectárias na Síria, ao mesmo tempo que exortou as autoridades sírias a tomarem medidas rápidas e coordenadas.
"Depositámos a nossa confiança no Governo sírio desde o início e continuamos a esperar que cumpra o seu dever", disse Abi al-Muna, que enviou uma mensagem ao Governo do Presidente interino da Síria, Ahmed al-Charaa, para conter a situação e proteger a comunidade drusa.
A nova vaga de violência reacendeu o espetro de confrontos sectários, após os massacres em março que tiveram como alvo a minoria muçulmana alauita, um ramo dos xiitas a que pertence o ex-presidente Bashar al-Assad, derrubado por uma coligação de rebeldes islamitas sunitas, agora no poder.
Estes confrontos resultaram na morte de mais de 1.700 pessoas, na maioria alauitas civis.
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