Conflito no Irão afeta Afeganistão e um em cada cinco afegãos passa fome

Um em cada cinco afegãos passa fome e 3,5 milhões de crianças afegãs sofrem de subnutrição aguda, alertou esta segunda-feira a ONU, frisando que o conflito entre Israel e o Irão está já a ter efeitos no Afeganistão.

Malnourished children's ward at Shah baba hospital closes in Kabul after US funding ends

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Lusa
23/06/2025 18:15 ‧ há 2 horas por Lusa

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Médio Oriente

O conflito entre Israel e o Irão está a ter repercussões no Afeganistão, perturbam o comércio e aumenta os preços dos bens básicos e dos combustíveis, e ao mesmo provoca o regresso de mais afegãos vindos do Irão, disse a chefe da missão da ONU no Afeganistão (Unama), Rosa Otunbayeva, ao Conselho de Segurança.

 

Desde o início do ano, mais de 600 mil afegãos já regressaram do vizinho Paquistão e do Irão. Mas, tendo em causa os recentes acontecimentos na região, as agências da ONU estão a preparar-se para um possível aumento do movimento transfronteiriço do Irão.

"Só nos últimos dias, os retornos do Irão foram superiores a 10 mil por dia. As comunidades e as autoridades de facto fizeram enormes esforços para absorver os retornados, mas sem assistência internacional, há limites para a segurança, retornos ordenados e pacíficos", frisou a líder da Unama.

Os desafios atuais no país são já suficientemente significativos, observou Rosa Otunbayeva, assegurando que essas dificuldades serão agravadas pela instabilidade regional.

Do ponto de vista humanitário, a ONU avançou na mesma reunião que metade da população afegã necessita de assistência, uma vez que enfrentam fome, deslocações prolongadas e acesso limitado a serviços essenciais.

"O povo do Afeganistão enfrenta necessidades humanitárias persistentes e agudas, agravadas por décadas de conflito, pobreza enraizada, um clima cada vez mais severo, restrições severas aos direitos das mulheres e das raparigas e um ambiente de financiamento altamente limitado", afirmou a secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya.

"Embora as palavras sejam muitas vezes insuficientes, os números falam com clareza: um em cada cinco afegãos passa fome. Cerca de 3,5 milhões de crianças sofrem de subnutrição aguda", acrescentou, perante o corpo diplomático.

Ainda segundo estimativas da ONU, cerca de 3,7 milhões de crianças afegãs estão fora da escola, incluindo 2,2 milhões de raparigas com mais de 11 anos proibidas de frequentar o ensino devido a restrições impostas pelo talibãs.

Além disso, a taxa de mortalidade materna é mais de 2,5 vezes superior à média global e algumas zonas do Afeganistão estão, mais uma vez, à beira da seca, a quarta em apenas cinco anos.

Cabul corre o risco de se tornar a primeira cidade dos tempos modernos a ficar sem água, uma vez que os níveis nos aquíferos caíram até 30 metros na última década devido à urbanização e às alterações climáticas e quase metade dos poços da cidade secaram, explicou Joyce Msuya.

Apesar dos desafios aumentarem, os cortes no apoio continuam a dificultar a resposta humanitária, num momento em que 420 unidades de saúde foram encerradas à força devido à falta de financiamento, privando mais de três milhões de afegãos de serviços de saúde vitais, segundo a ONU. 

Com metade do ano já passado, o plano de resposta humanitária para o Afeganistão está financiado em menos de 21%, com uma lacuna de 1,9 mil milhões de dólares (1,65 mil milhões de euros", reforçou Msuya.

Nesse sentido, a representante humanitária da ONU apelou à comunidade internacional para que apoie não só o trabalho humanitário no país, mas também que apoie a resiliência das comunidades afegãs, aumentando os investimentos na agricultura, nos sistemas de saúde e noutros serviços vitais.

No encontro, focado nas políticas restritivas e discriminatórias das autoridades talibãs, esteve igualmente presente a diretora executiva da ONU Mulheres.

Sima Bahous sublinhou que nos últimos nove meses, desde a última vez que falou perante o Conselho de Segurança sobre o Afeganistão, a realidade para mulheres e raparigas afegãs "só se tornou mais terrível".

"Nenhuma restrição foi revertida. A repressão tornou-se mais sistemática e calcificou-se na estrutura e na lei. No meio desta crise cada vez mais profunda, o apelo das mulheres afegãs para que o mundo não as esqueça é muitas vezes ignorado", lamentou.

"Não devemos desviar o olhar. Não nos devemos habituar à situação. A opressão sistemática de 20 milhões de pessoas simplesmente por serem mulheres é totalmente inaceitável. (...) Peço a todos que não poupemos esforços para cumprir as promessas feitas às mulheres e às raparigas do Afeganistão", concluiu.

Leia Também: Filho do último Xá iraniano diz que "o fim do regime está próximo"

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