"Mantenho a minha afirmação. Não tenho qualquer outra informação enquanto ministro da Educação e não beneficiei de qualquer informação privilegiada", disse François Bayrou, durante uma tensa troca de palavras com o correlator da comissão de inquérito, o deputado Paul Vannier, do partido França Insubmissa (LFI, esquerda radical).
O primeiro-ministro acusou o deputados de "distorcer a realidade" dos acontecimentos.
Bayrou foi ouvido pelas 17 horas (16 horas de Lisboa) enquanto antigo ministro da Educação (1993-1997) pelos deputados sobre o caso do liceu Notre-Dame-de-Bétharram e o nível de informação sobre os alegados atos de violência, incluindo violência sexual, denunciados por mais de 200 queixosos e antigos alunos da escola católica.
"Os ecos surgiram, algumas semanas após a minha nomeação como primeiro-ministro (em 13 de dezembro de 2024), não tenho qualquer recordação desses acontecimentos de há 30 anos, não tenho documentos", afirmou, defendendo que nunca fez parte do Conselho de Administração da Betharram.
Desde fevereiro, Bayrou é acusado de ter tido conhecimento das violências cometidas ao longo de décadas pelos antigos clérigos e funcionários do liceu e de ter eventualmente intervindo junto dos tribunais, falando com um juiz, quando foi ocupava a pasta da Educação.
"Na minha vida, fui acusado de muitas coisas, mas raramente de atos tão ignominiosamente graves" como o de procurar proteger os autores de "violência pedocriminal", afirmou o primeiro-ministro, insistindo que nunca mudou a versão dos factos e que soube da queixa em 09 de abril de 1996, na altura dando origem a um relatório sobre a Bétharram.
Para o atual chefe de Governo, o cargo político "permitiu que estes factos viessem à luz do dia", algo que "é muito importante para os rapazes e raparigas que foram vítimas de violência e, em particular, de violência sexual durante décadas".
"A primeira palavra que me vem à cabeça quando penso nesta audição é: finalmente", continuou, referindo-se às vítimas de violência "que demasiadas vezes permaneceram em silêncio", neste caso existem queixas de abusos físicos e sexuais desde os anos de 1960.
O chefe de Governo francês denunciou ainda a vontade de alguns de "derrubar este governo", utilizando "a arma do escândalo". Referiu também o número crescente "de ameaças" e de "pedidos de demissão" que tem sofrido nos últimos meses por parte da oposição.
O escândalo afeta também pessoalmente Bayrou, que enviou os filhos para esta escola católica perto de Pau (sul de França), cidade em que continua a ser presidente da câmara.
Após um ano de investigação, o Ministério Público francês abriu um inquérito judicial e um antigo supervisor da escola foi acusado e colocado em prisão preventiva em fevereiro.
A comissão de inquérito parlamentar pretende ainda ouvir os antecessores no cargo da Educação, Elisabeth Borne, Nicole Belloubet, Jean-Michel Blanquer, Pap Ndiaye e Ségolène Royal, mas também o atual ministro da Justiça, Gérald Darmanin.
[Notícia atualizada às 21h13]
Leia Também: Filha de Bayrou diz ser uma das vítimas de liceu polémico. Pai não sabia