Num novo episódio de tensão entre ambos os países, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sudanês publicou um comunicado, na rede social X, no qual denuncia que os funcionários diplomáticos foram detidos "durante oito horas após completarem todos os procedimentos de saída no aeroporto do Dubai" e viram os seus telefones e computadores intervencionados.
O governo do Sudão, controlado pelos militares, considera que este incidente "sem precedentes" demonstra "um grave desprezo por parte das autoridades dos EAU pelas suas obrigações no âmbito do direito internacional, nomeadamente a de protegerem os diplomatas.
"Esta prática também reflete um desejo de prejudicar os residentes sudaneses nos Emirados Árabes Unidos", aponta.
Segundo as agências espanholas EFE e Europa Press, até ao momento os EAU não reagiram às acusações de Cartum.
No início do mês, o Sudão rompeu relações diplomáticas com os Emirados, mas manteve uma presença mínima de pessoal diplomático, para resolver os trâmites dos cidadãos sudaneses que ali vivem.
Porém, os Emirados não reconheceram a rutura das relações, porque não reconhecem o líder militar, Abdel Fattah al-Burhan, como governante legítimo do Sudão.
A rutura deu-se depois de Cartum ter acusado Abu Dhabi de "terrorismo de Estado", ao estar a apoiar a milícia paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que combatem o exército sudanês, num conflito armado que começou em abril de 2023 e lançou o país para mais uma catástrofe humanitária.
Organizações como a Amnistia Internacional têm denunciado que Abu Dhabi está a apoiar ativamente as RSF, fornecendo material de guerra, mas os Emirados rejeitam essas acusações "infundadas".
A tensão entre os dois países aumentou na semana passada, depois de, na segunda-feira, o Tribunal Internacional de Justiça ter rejeitado a queixa do Sudão contra os Emirados Árabes Unidos.
Em março, Cartum processou Abu Dhabi no TIJ, em Haia, por cumplicidade no genocídio contra a comunidade Masalit, devido ao seu suposto apoio às RSF.
Quando os Emirados Árabes Unidos assinaram a Convenção sobre o Genocídio, em 2005, apresentaram uma "reserva" relativamente a uma cláusula fundamental que permite aos países atacarem-se mutuamente perante o TIJ em caso de litígio.
"Tendo em conta a reserva feita pelos Emirados Árabes Unidos, o tribunal é claramente incompetente para se pronunciar sobre o pedido do Sudão", declarou o TIJ.
A guerra que, desde abril de 2023, opõe o exército regular, liderado por Abdel Fattah al-Burhan, às RSF, chefiadas pelo seu antigo adjunto Mohamed Hamdan Daglo, causou dezenas de milhares de mortos no Sudão, desalojou 13 milhões de pessoas e instalou a fome nalgumas regiões, provocando "uma das piores catástrofes humanitárias" do mundo, segundo as Nações Unidas.
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