A campanha política nos Olivais assemelha-se, nos últimos dias, a uma verdadeira novela. Nas redes sociais, as acusações e insultos têm sido permanentes e não seria de estranhar se se tratasse apenas de uma mera troca de opiniões contraditórias entre militantes ou apoiantes de listas diferentes - mas não é o caso.
Os protagonistas são a ainda presidente da Junta de Freguesia do Olivais (e alguns membros do seu antigo executivo) e o coordenador do PS dos Olivais que foi, outrora, parte da mesma equipa.
Comecemos pelo início: em janeiro, a concelhia do PS-Lisboa decidiu retirar a confiança política à Junta de Freguesia dos Olivais. Em causa estava o facto de Rute Lima se recusar a despedir três elementos do seu executivo, Ana Catarina Crista, José Ricardo Silva e Wanda Stuart, que lideram uma nova lista de candidatura às autárquicas, o Olivais +.
A concelhia do PS alegou que houve uma "clara e reiterada violação" dos estatutos do partido. Já Rute Lima, que está no seu terceiro mandato como presidente deste freguesia lisboeta - e não se pode candidatar mais -, considera que a decisão do PS, liderada pelo presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, foi "uma decisão autoritária", e diz sido "chantageada, ameaçada e coagida" para agir como da forma que o partido queria.
Na mesma altura, a autarca defendia que "os Partidos Políticos devem estar preparados para a democracia interna, independentemente da forma. E o PS não pode nem deve ser exceção".
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Retirada a confiança política, Rute Lima não hesitou em juntar-se à campanha liderada pela sua vogal Ana Crista e de 'apontar armas' àquele que outrora foi o seu número dois e que estava na linha de sucessão, ali colocado por si: Duarte Carreira.
Nas redes sociais da própria, bem como em grupos dedicados aos Olivais, têm sido frequentes as críticas a Duarte Carreira. As antigas colegas acusam-no de ser "hipócrita", de ser o maior "embuste político" e de "cuspir no prato onde comeu".
A cantora Wanda Stuart, vogal da Cultura, por exemplo, não poupa criticas ao ex-colega, referindo que sempre foi crítico das suas iniciativas em prol da cultura nos Olivais: "É feio, não é sério e torna-se ridículo nas suas tentativas de enganar a população com uma falsa preocupação com a Cultura nos Olivais…"
Presidente dos Olivais diz serem apenas "desabafos"
Em declarações ao Notícias ao Minuto, ambos assumem a troca de galhardetes mas fazem questão de referir que não se trata de uma "questão pessoal".
“São só desabafos”, começa por nos afirmar Rute Lima, garantindo que não existe “nenhuma questão pessoal” entre os dois, pois esse tipo de assuntos “resolvem-se noutros fóruns”.
Porém, assume que houve uma quebra de confiança política e um afastamento político em relação ao seu antigo vogal. “Faz um ano que retirei a confiança política ao Duarte e à Anabela [vogal da Educação], com motivos mais que fundamentados, por questões internas da Junta de Freguesia (que os mesmos muito bem conhecem e teimam em disfarçar com questões políticas) e por considerar que o Duarte não tem as condições necessárias para ser candidato”, explica a presidente da Junta de Freguesia dos Olivais, lembrando que Duarte Carreira é, atualmente, “arguido” num processo judicial "muito mediático" que envolve contratos suspeitos celebrados entre familiares do executivo.
Reconhecendo que o antigo colega “não é nenhum bandido”, a autarca considera contudo que “uma pessoa candidata não deve ter questões legais pendentes”. “Não me parece honesto”, diz, revelando que Duarte “não reagiu bem” ao facto de ter perdido o seu apoio.
“Duarte é um produto meu mas não aceitou as minhas considerações … […] não reagiu bem e ação gera reação”, atira, referindo-se às críticas que tem apontado ao ex-vogal sobretudo através do Facebook, onde o acusa de ser o maior “embuste político” e de se aproveitar de iniciativas do executivo – ideias que outrora contrariava - para agora fazer campanha.
“O Duarte tem uma ambição desmedida, que não condeno, todos podemos ter sonhos, mas não podemos ficar cegos”, diz, referindo que “os Olivais merecem um pensamento mais sério”.
PS Olivais não responde na mesma moeda e lamenta "calúnias"
Já Duarte Carreira, que foi vogal do Desporto e do Associativismo, não tem respondido às acusações. Ao Notícias ao Minuto contou a sua versão dos factos, revelando que tudo começou há cerca de dois, três anos altura em que se começou a dar "um afastamento progressivo" da sua pessoa em relação ao executivo do qual fazia parte.
"Tudo começou quando apoiei o Pedro Nuno Santos à liderança do PS e a Rute Lima apoiava o José Luís Carneiro. Ela achou que eu deveria apoiar o mesmo candidato que ela e nunca perdoou. O nosso afastamento começou aí", conta, revelando que o conflito se intensificou quando se candidatou a coordenador da secção do PS nos Olivais e venceu.
Em dezembro do ano passado, Duarte decidiu renunciar ao seu cargo, momento no qual começou a sentir o início das picardias. Se, inicialmente, Duarte considerou que "são dinâmicas normais partidárias", defende também que "as redes sociais não devem ser local de insultos" e garante que "não houve nem vai haver resposta" às "calúnias de que tem sido alvo".
"As críticas revelam uma forma de estar na política com a qual não concordo", afirma, defendendo que o seu objetivo não "são os ataques mas sim as ideias". Este diz querer acreditar que tudo não passa de uma questão política e salienta que estas "quezílias não elevam a qualidade do debate".
Apesar do amenizar da situação, o Notícias ao Minuto sabe que o socialista tem recebido várias ameaças anónimas e que já teve mesmo de tomar ações. "Apresentei queixa na PSP pela minha integridade", revela.
Terceira alternativa agregadora pode ser solução?
Apesar das garantias de que tudo não passa de uma questão política, e que a nível pessoal nenhum dos protagonistas tem nada a apontar, certo é que ambas as partes estão em discórdia e o conflito envolve também o Partido Socialista.
Rute Lima considera que ao ignorar o facto de Duarte Carreira estar envolvido num processo judicial mostra que o “PS anda em processo de autismo e que tem tudo para correr mal”, referindo-se ao facto de este não ter legitimidade para se candidatar e poder estar-se a alimentar uma candidatura que mais tarde terá de cair por terra.
"O PS tem figuras nos Olivais para se candidatarem, pessoas conscientes experientes e sem questões judiciais a ensombrar uma candidatura autárquica", atira.
Já Duarte reforça que outras demissões no executivo provam a “demarcação do Partido Socialista” em relação à sua antiga representante.
A autarca, por sua vez, lembra que a nova candidatura que apoia é composta na sua maioria por militantes do Partido Socialista, lamentando o facto de estes não se terem podido candidatar pelo partido que representam e defende que a única solução para o fim das quezílias seria “uma terceira alternativa agregadora consensual”. Questionada quem lideraria esta alternativa e se Duarte Carreira faria parte da mesma, a responsável autárquica disse preferir não responder.
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