Uma juíza da Organização das Nações Unidas (ONU) foi condenada a seis anos e quatro meses de prisão, esta sexta-feira, por ter forçado uma jovem do Uganda a trabalhar para si, no Reino Unido.
Lydia Mugambe, de 50 anos, terá ainda de pagar uma indemnização de 12,160 libras (cerca de 14,269 euros) à vítima, que terá direito ao anonimato para o resto da vida, de acordo com um comunicado da Polícia de Thames Valley.
A juíza do Supremo Tribunal do Uganda, que estava a tirar um doutoramento em Direito na Universidade de Oxford, obrigou a vítima a trabalhar como empregada doméstica e a cuidar dos filhos sem remuneração.
Durante a audiência foram mostradas imagens de Mugambe a dizer à polícia que tinha "imunidade" e que "não era uma criminosa", quando foi detida.
“Ela pediu-me porque já tinha trabalhado em minha casa antes, ela pediu-me", disse.
Mugambe foi nomeada para a lista de juízes da ONU em maio de 2023, três meses depois de a polícia ter sido chamada à sua morada em Oxfordshire.
Lydia Mugambe, a UN & Ugandan judge, has today been convicted of bringing a woman into the country illegally & then forcing her to work as a slave.
— Thames Valley Police (@ThamesVP) March 13, 2025
Mugambe tried to evade justice by claiming she had diplomatic immunity, which has now been removed
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“Lydia Mugambe explorou e abusou [da mulher], aproveitando-se da sua falta de compreensão dos seus direitos a um emprego devidamente remunerado e enganando-a quanto ao objetivo da sua vinda para o Reino Unido”, argumentou a procuradora Caroline Haughey KC, citada pela Sky News.
De facto, a juíza conspirou com o vice-comissário do Alto Comissariado do Uganda, John Leonard Mugerwa, para trazer a jovem para o Reino Unido.
“A acusação argumentou que Mugerwa patrocinou a entrada da vítima no Reino Unido como trabalhadora doméstica na sua casa pessoal, mas sob os auspícios do Alto Comissariado do Uganda, o que, no seu papel diplomático, ele tinha o direito de fazer, ao passo que Mugambe não podia patrocinar um visto, uma vez que era estudante no Reino Unido nessa altura”, lê-se no comunicado das autoridades.
A polícia detalhou ainda que “Mugerwa facilitou o visto da vítima sabendo que ela iria efetivamente trabalhar em regime de servidão para Mugambe e, em troca, que Mugambe lhe prestaria assistência em relação a um processo judicial no Uganda”.
O homem foi investigado mas, como detinha imunidade diplomática, à qual o Governo do Uganda não renunciou, não pôde ser acusado de qualquer delito.
Mugambe negou que obrigasse a jovem a fazer tarefas domésticas e assegurou que "sempre" a tratou com amor, carinho e paciência. A jovem, por seu turno, disse que, “em pouco tempo, as coisas mudaram e ela não fez o que tinha prometido”.
“Fez-me sentir infeliz, uma vez que não conseguia falar com ela, porque tinha medo dela. Mesmo depois de a polícia ter ido a sua casa na primeira vez, Lydia disse-me que tinha autoridade e que queimaria o meu passaporte e o meu cartão bancário. Também disse que chamaria a polícia porque eu estava no Reino Unido ilegalmente. Estava com medo e preocupada. Pedia a Deus que me ajudasse. Devia ter sido tratada com humanidade e não como uma inútil sem valor”, disse.
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